por Sandra O. Monteiro, para a Agência USP

Em sua tese, Eliane procura estabelecer um diálogo que envolva escrita, autoria e ensino, a fim de estabelecer como se constitui o sujeito-autor dentro do contexto escolar. Para ela, “a questão da autoria não se refere apenas a como o autor se posiciona em relação a um ou outro assunto, mas como ele coloca em palavras, por meio de um processo árduo e de grande responsabilidade, o que ele mesmo vê do mundo”.
Para realizar sua pesquisa, a educadora reuniu estudantes, de sexto a oitavo anos de uma escola particular de São Paulo. A escolha dos alunos ficou por conta dos professores, porém, para dar início a qualquer atividade, a anuência de cada um dos participantes foi essencial. “A liberdade deveria começar do querer estar ali”, conta a educadora.
Durante o estudo foram feitas perguntas relacionadas à produção textual desenvolvida pelos professores de língua portuguesa em sala de aula. Como eram feitas essas atividades, quais as dificuldades encontradas, além de outras atividades produtivas com a própria pesquisadora. Houve ainda entrevistas pessoais sobre todas as atividades dentro e fora da escola que tivessem relação com a escrita.
Ao longo da coleta de dados, porém, os participantes foram aos poucos desaparecendo. Alguns diziam que não tinham mais tempo para ir aos encontros, alegavam excesso de atividades escolares e extraescolares. Outros, simplesmente, sumiram.
Metodologia errada
“As desistências foram inquietantes”, relata a pesquisadora. “Entretanto, não puderam ser elucidadas, porque era necessário um afastamento para perceber que a escolha metodológica estava inadequada para a proposta da pesquisa.”
A metodologia utilizada por Eliane, não idêntica, mas parecida com as práticas de produção textual escolar, nem sempre conseguiram ser criativas e estimulantes de maneira que acabaram por gerar o desinteresse de muitos participantes.
O que atravanca o processo da escrita?
Livros didáticos que dividem os gêneros discursivos podem também trazer o passo a passo da escrita e incentivar a leitura. Porém, não conseguem conceder à criança a possibilidade de imprimir uma voz própria no texto, mesmo porque são atividades controladas. Faltam oficinas que envolvam o aluno no processo de redigir textos, que possibilitem reflexão e que, de alguma maneira, gerem interesse em escrever. Nesse contexto, sujeitos-autores genuínos podem passar ao automatismo das regras.
Dos sete participantes da pesquisa, apenas duas estudantes se destacaram como “sujeito-autor”. Uma delas, pela consciência que tinha sobre temas externos à escola, sobre o que viria a ser uma pesquisa, sobre o porquê participar e pelo prazer que já tinha de escrever. A segunda, devido ao gosto da escrita que desenvolveu para não se sentir tão sozinha, como filha única. “Esta aluna escrevia histórias em capítulos e a pesquisa serviu para estimular mais a escrita em casa, a que dava mais prazer.”
A tese Escrita, Autoria e Ensino: um Diálogo Necessário para Pensar a Constituição do Sujeito-Autor no Contexto Escolar, foi defendida, em 2010, na Faculdade de Educação (FE) e orientada pela professora Alice Vieira, do Departamento de Metodologia do Ensino e Educação Comparada da FE.
* Publicado originalmente no site Agência USP.
(Agência USP)
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